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domingo, 20 de novembro de 2011

Os desenhos infantis

Autora: Georgette Silene Aparecida de SouzaOficina Caçapava - SP




Os desenhos das crianças: análise e interpretação



O relato que vou apresentar é sobre o trabalho realizado junto a educadores numa oficina livre de artes visuais sobre a observação e análise de desenhos infantis. Com a utilização de textos e artigos de renomados educadores da área a proposta era a de observar os desenhos e através de debates e discussões em grupo, seguindo a orientação dos textos, procurar entender mensagens e códigos implícitos nos desenhos infantis.




Sem perceber, no momento de desenhar a criança transporta para o papel seu estado anímico, em todos os detalhes. Refletem seu mundo físico e psíquico, suas relações mais fortes, desejadas e indesejadas, fatos do passado e do presente e podem nos apontar direções futuras. É por isso que os desenhos das crianças permitem-nos incrementar consideravelmente nossos dados sobre seu temperamento, caráter, personalidade e necessidades.
Os desenhos ajudam-nos também a descobrir (e por que não re-descobrir?) e reconhecer as diferentes etapas pelas quais a criança está atravessando, os seus problemas e dificuldades, assim como seus pontos fortes. Como introdução ao trabalho deve-se explicar os principais tópicos das artes visuais relacionadas com o desenho: o ponto, o traço, a linha, a textura, a forma, as cores, entre outros.
Analisar um desenho não é o mesmo que interpreta-lo, pois existe uma diferença real e concreta em ambos os conceitos:


A análise responde a um enfoque técnico e racional.
A interpretação dos desenhos é o resultado ou a síntese da análise.


Assim que esses pontos foram expostos aos participantes os exercícios da primeira parte tinham como objetivo trabalhar a questão da análise. Havia sido pedido aos professores que trouxessem desenhos produzidos por seus alunos e que passaram a ser observados primeiramente sobre um enfoque mais técnico, seguindo os dados fornecidos anteriormente.


Nessa análise é importante que o educador faça um reconhecimento exaustivo dos elementos mais e menos presentes nos desenhos de seus alunos, compare-os com outros desenhos da mesma criança em produções anteriores para verificar se houve ou não uma evolução de linguagem e reconheça símbolos e sinais repetitivos. Todos os detalhes importam: a utilização das cores preferidas pelas crianças, o posicionamento desses desenhos dentro do perímetro da folha, sua divisão nos quatro planos, quais as personagens mais freqüentes em seus desenhos e a importância dada a cada um deles. Uma criança tímida e retraída costuma utilizar menos espaço para desenhar em uma folha, uma criança mais "agitada" tende a não observar os limites do papel e a não concluir o que inicia, forçando demais o lápis ou utilizando mais as cores quentes do espectro. Tudo pode ser utilizado e trabalhado dentro de sala de aula. Pedir aos alunos que desenhem escolhendo apenas uma cor ou o lado direito ou esquerdo da folha é um bom início de análise de um desenho.


É um trabalho rigoroso e difícil, pois nem sempre estamos abertos a conhecer ou respeitar esse universo, pensamos no desenho como uma atividade “livre” e que não tem a mesma importância da escrita. Entretanto, a escrita pictórica é a primeira forma de comunicação do ser humano com o mundo. Foi assim com nossos antepassados e suas pinturas e desenhos rupestres, foram assim com antigas civilizações que fizeram dos desenhos uma forma de comunicação que, com a evolução, adquiriu sons e fonemas, tornando-se o que hoje conhecemos como a escrita e a oralidade desses alfabetos.


Ainda hoje nosso primeiro contato com o mundo da escrita se dá através dos traços ingênuos e desprentesiosos que realizamos desajeitadamente em folhas de papel, quando um lápis é colocado em nossa mão, e percebemos que rola-lo por essa superfície provoca algo: uma apropriação de nossas idéias, uma maneira de expressa-las do nosso modo e a compreensão dela por parte de “outros” que estão ao nosso redor. É nesse momento que o desenho deixa de ser uma mera distração para tornar-se um poderoso meio de comunicação e interação entre crianças e adultos, educandos e educadores, pais e filhos.


Após a fase exaustiva de análise, que pode durar pouco ou muito tempo dependendo do público alvo, o educador terá em mãos materiais suficientes para realizar as primeiras interpretações dos desenhos de seus alunos. Primeiras porque durante a infância a criança cresce, seus modelos mudam, sua convivência se altera, sua consciência se expande, a visão de mundo se amplia e tudo isso se refletirá naquilo que ela representar. O que a princípio pode ser uma liberação espontânea de idéias irá se revelar como algo prazeroso ampliando os potenciais artísticos e de aprendizagem nas artes visuais. Para ilustrar melhor esse é o momento do trabalho em que os educadores são estimulados a produzirem desenhos. Após essa produção os desenhos são trocados entre os grupos e todos fazem a síntese dos elementos presentes e discutem qual as fases pelas quais os participantes estão passando em relação ao seu trabalho. Vale lembrar que o desenho adulto é bem diferente do da criança e que nesse caso essa parte do exercìcio é ilustrativo para que o participante compreenda como se dá o processo e incremente-o com seus próprios saberes.


Por esse motivo é importante que o educador tenha sempre várias produções da mesma criança, que as compare, que ofereça materiais diferentes para novas experiências que estimulem o desejo da criança em expor as idéias que estão na cabeça. Uma folha de formato diferente, um lápis que tem uma cor nova, uma história contada, tudo isso pode gerar o insight que vai liberar a criança em sua produção, e com isso gerarem mais dados analíticos para o educador.


Para os educadores o momento do “desenho livre”, tão criticado como sendo uma desculpa para não fazer nada, deve ser aproveitado como um momento de pesquisa e compreensão. O educador deve saber, através de sua prática e formação, quando o desenho livre é uma arma a seu favor e quando ele deve interferir com o desenho mais direcionado, no sentido de obter o maior número de dados possível de seu público alvo e também de incrementar a aprendizagem dessa criança no campo das artes visuais.


Quando se pensa em educação, principalmente a educação no Brasil, com todos os problemas que ela enfrenta, os educadores devem aproveitar todo o conhecimento adquirido para ampliar sua prática de forma positiva. Para isso, entretanto é necessário o compromisso de todos os envolvidos no processo educativo: o compromisso do educador em ensinar, o compromisso do aluno em aprender, o compromisso do poder público em fornecer recursos necessários, o compromisso da sociedade (pais, famílias, entidades, etc.) em acompanhar e apoiar iniciativas que venham a favorecer a educação.


Analisando o desenho de uma criança podemos ver nele suas necessidades, sonhos, problemas, vínculos, seu universo íntimo e periférico. O desenho de uma criança reflete a sociedade. Por que então não analisar e interpretar essa sociedade, no sentido de conhecê-la melhor, para se traçar as estratégias que possam ampliar e melhorar sua condição enquanto grupo de indivíduos que convivem juntos?


Bibliografia de referência:

A imagem no ensino da Arte, Ana Mae Barbosa, editora Perspectiva.

Formas de Pensar o desenho, Edith Derdyk, editora Scipione.

Como Interpretar os Desenhos das Crianças, Nicole Bédard, editora Isis.

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